Em conversa com a arquiteta Helena Botelho
Autora do Projeto de Arquitetura da Galeria D. José do Patrocínio Dias.
Autora do Projeto de Arquitetura da Galeria D. José do Patrocínio Dias.
(Nélia Pedrosa, Diário do Alentejo, 9 de Agosto de 2019)
Em que contexto e com que objetivos surge a Galeria D. José do Patrocínio Dias, que poderá ser visitada a partir do dia 12, na Casa de Santa Maria, da Congregação das Oblatas do Divino Coração, em Beja?
A Congregação das Oblatas do Divino Coração, que tinha a seu cuidado o espólio do D. José do Patrocínio Dias, há muito que queria homenagear este homem que, para além de fundador da congregação, foi uma figura de grande importância na região. O objetivo foi criar um espaço que permitisse contar a sua história a partir dos seus objetos pessoais, desde os tempos da 1.ª Grande Guerra como capelão militar em França à sua missão religiosa como bispo da Diocese de Beja. Na Casa de Santa Maria, situada no centro da cidade de Beja, convento e casa-mãe da congregação, existia uma antiga garagem sem qualquer utilização com entrada desde o largo com o mesmo nome. Esta excelente localização junto à igreja de Santa Maria, com bastante visibilidade de quem passa na rua, e a existência da antiga garagem levaram as irmãs a considerarem este espaço ideal para fundarem esta pequena galeria de exposições.
Quais os maiores desafios com que se deparou na concretização deste projeto, considerando que a galeria ocupa o espaço anteriormente destinado a garagem? E como está dividida?
O maior desafio foi atribuir à garagem de uma casa a dignidade que este espaço exigia. No fundo, queríamos criar uma surpresa, para que as peças não fossem reveladas todas de uma só vez. Teríamos de fazer desaparecer a garagem e enobrecer o espaço, de modo a que este permitisse ter a atmosfera própria deste tipo de programa. A ideia foi quase evidente: criar duas zonas claramente distintas, um percurso, denso e misterioso, onde se destacam as vestes e paramentos, em contraste com uma caixa luminosa que revela as peças mais pequenas, como se uma “caixa de joias” se tratasse.
Do espólio de D. José do Patrocínio Dias exposto, o que destacaria mais e porquê?
Convém dizer que esta exposição é permanente e foi feita a partir de uma seleção criteriosa das peças do espólio do D. José, de modo a contar a sua história, desde a infância até ao final da sua vida. Penso que existem muitas peças de interesse, mas destacaria claramente as condecorações atribuídas pela participação na 1ª Guerra Mundial, que são, no fundo, o reconhecimento da sua importância e do seu acompanhamento espiritual aos soldados no campo de batalha como chefe dos capelães militares. Existe ainda uma peça especial: um altar de campanha, uma peça em madeira desdobrável, que nos permite imaginar o contexto em que foi utilizada, e daí ter um enorme significado. Chamo ainda a atenção para o pequeno vídeo que nos permite conhecer melhor a história deste homem, que, para além da já referida importância no campo de batalha na 1.ª Guerra Mundial, e em particular na Batalha de La Lys, teve um grande papel social de luta contra a pobreza, no nosso Baixo Alentejo, quando assumiu o cargo de bispo da diocese em 1922.