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O bispo soldado

Em 1895, inicia no Seminário da Guarda o curso de preparatórios. Em 1902 matricula-se na Faculdade de Teologia de Coimbra.

D. José do Patrocínio Dias, à esquerda
D. José do Patrocínio Dias, à esquerda
Arquivo Histórico CODC

“D. José do Patrocínio Dias – Bispo Soldado”, por (Álvaro Morgadinho, in Homens e Factos, Nova edição, Covilhã, 1990)

Dom José do Patrocínio Dias nasceu a 23 de Julho de 1884, na freguesia de S. Pedro, da cidade da Covilhã. Foram seus pais Claudino Dias Agostinho e Rosa e D. Claudina dos Prazeres, professores primários. Fez os seus estudos secundários no Colégio de São Fiel.

Em 1895, inicia no Seminário da Guarda o curso de preparatórios. Em 1902 matricula-se na Faculdade de Teologia de Coimbra, concluindo a formatura, com distinção, em Junho de 1907. Durante a sua permanência em Coimbra, dedicou grande actividade às Conferencias Vicentinas e à Congregação Mariana. Terminada a formatura, resolveu entrar no Sacerdócio.

Em 21 de Dezembro de 1907, ordenava-o de Presbítero o Prelado da Guarda, D. Manuel Vieira de Matos. No dia 30 do mesmo mês, na Igreja de Coração de Jesus, na Covilhã, celebrava a sua primeira missa. Depois de exercer, durante dois anos, como professor do Seminário e Capitular da Sé, foi encarregado de paroquiar a freguesia de S. Vicente, na Guarda. Em 1908 trabalhou com bastante dedicação no Congresso das Agremiações Católicas, realizado na Covilhã. Em 1910 organizou a peregrinação a Lurdes.

Proclamada a República, foi uma das primeiras vítimas da demagogia e sofreu o vexame da prisão, com D. Manuel Vieira de Matos. Em 30 de Novembro de 1915, era nomeado Cónego da Sé na Guarda, tomando posse a 7 de Dezembro do mesmo ano.

Na primeira Guerra Mundial, pediu para ser recebido pelo General Norton de Matos, então ministro da Guerra. Um Cónego da Sé da Guarda, com mais de 30 anos, cheio de mocidade e talento, a apresentar-lhe uma petição, acentuava: “No momento em que morrem serranos em França, lamentados por franceses e ingleses, por não haver em Portugal sacerdotes, que, como eles, se imolam nos campos de batalha, expondo a sua vida mortal pela vida imortal dos seus irmãos, parece-me que não sou eu impertinente em querer partir, mas o que me querem fazer ficar”. Norton de Matos, após várias considerações, observa ao sacerdote: “Quando quer partir?” Este respondeu-lhe com decisão. “Já”. Foi assim que, em 13 de Março de 1917, era incorporado como Capelão Voluntário do Corpo Expedicionário Português a França. Pouco tempo depois foi nomeado em ordem de serviço do quartel general, Capelão Chefe da assistência religiosa em Campanha, lugar que desempenhou até embarcar para Portugal, em 11 de Maio de 1919.

D. José do Patrocínio Dias, ao centro, com militares, anos 20. (Arquivos Históricos)

No Consistório Público, de 16 de Julho de 1920, foi eleito por Bento XV Bispo de Beja. Em 3 de Junho de 1921, recebeu a Sagração Episcopal, na Guarda. Foi sagrante D. Manuel Vieira de Matos e consagrante D. José Alves Matoso e D. Manuel da Conceição Santos. No dia 3 do mesmo ano, tomava posse por procuração da Diocese onde, a 5 de Fevereiro de 1922, fez a sua entrada solene.

Foi em circunstâncias de anemia espiritual e agitação política que foi encontrar a sua Diocese. Vemo-lo, na mais dura batalha da sua vida de Bispo de uma diocese desmantelada e hostil, onde, mais que o ataque à bomba, sentiu a dor de alma ao contemplar, desolado, o deserto espiritual: sem Catedral, sem Paço, sem Seminário, sem Conventos e, o que era pior, sem sacerdotes e sem religiosas. Começou sem tardança a tarefa heroica que pesava sobre os seus ombros. Em 1928, foi superior interino do Colégio das Missões Ultramarinas, e, no mesmo, fundou o semanário Notícias de Beja e mais tarde o Eco Pacense. O Governo Português confere-lhe a Cruz de Guerra. É Comendador de palma de Ouro da ordem de Cristo (classe militar), além da “fourragére” da Torre e Espada e das medalhas comemorativas.

O ambiente hostil dos primeiros tempos em breve se modificou. Sereno e confiante, consagrou-se por inteiro à restauração da vida religiosa, por meio de pregação constante e visitas pastorais, fundação de obras de apostolado. A grandeza da sua alma e do seu coração de Pastor para todos traduz-se também na Caridade que dedica aos pobres. “Só me incumbe o cumprimento dum sagrado dever: denunciar, segundo o Espírito do Evangelho, às consciências cristãs, as graves responsabilidades de todos perante a obrigação de dar de comer a quem tem fome”. Foi com este brado veemente que instituiu a Junta Diocesana do Amparo dos Pobres, de que resultou uma notável obra de auxílio aos pobres, a fundação do Bairro de Nossa Senhora da Conceição para as classes rurais, com a conclusão de 82 moradias e a construção do Seminário, sob a invocação de Nossa Senhora de Fátima.

Em Dezembro de 1932, recebe a Ordem de Benemerência, pelo Presidente da República General Carmona. A 31 de Agosto de 1935, preside à peregrinação a Roma de 22 antigos combatentes católicos da guerra de 1914-1918. Além da homenagem ao soldado desconhecido de Roma, houve Missa na Basílica, pelo Santo Padre.

A 3 de Julho de 1936, é filho adoptivo da Ordem dos Capuchinhos. Em 1937 inaugura a Igreja Catedral e a 4 de Agosto de 1940 assiste à inauguração do Cruzeiro da Torre, na Serra da Estrela. A 13 de Outubro do mesmo ano, no jubileu da sua sagração episcopal, é nomeado assistente ao Sólio Pontifício. O governo português condecorou-o com a Grã-Cruz de Ordem de Benemerência, e o governo francês com a Cruz de Oficial da Legião de Honra.

Em 1945 concluiu a visita pastoral de toda a Diocese, com a organização da Acção Católica e uma vasta rede de instituições de caridade espalhadas por toda ela.

Em 1947 a imagem de Nossa Senhora de Fátima percorreu, durante um mês, toda a Diocese, sempre com a sua presença. Toma parte no Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, realizado em 1953. Em 1956 sagrou o seu Bispo Auxiliar, e a 8 de Dezembro do mesmo ano inaugurava, em Beja, o Monumento a Nossa Senhora da Conceição.

Em Dezembro de 1957, celebra as suas Bodas de Ouro Sacerdotais, a que Sua Santidade Pio XII se associou. A Covilhã prestou-lhe solene e vibrante homenagem, a 21 de Dezembro do mesmo. Foi recebido no lugar do Refúgio – S. Martinho da Covilhã, pelo clero, autoridades civis e militares, seguindo em cortejo para a Igreja da Misericórdia, dali a pé para a Igreja de S. Tiago, recebendo, durante o percurso, carinhosas manifestações. Pelas 11.30 horas, perante imensa multidão, foi celebrado o Solene Pontifical, assistindo os Bispos da Guarda e auxiliar de Beja, Cabido da Guarda e Beja, representante do Comandante da Região Militar, Subsecretário de Estado do Exército, Governadores Civis, Presidentes das Câmaras das duas cidades, muito Clero e mais autoridades civis e militares. À hora do Evangelho subiu ao púlpito o Bispo da Guarda.

No Salão do Teatro-Cine, falaram vários oradores, entre eles o Presidente da Câmara da Covilhã que lhe fez a entrega da Medalha de Ouro da cidade. Era o testemunho de gratidão a um filho muito ilustre. Em Janeiro de 1958, dez dias depois das festas jubilares, abriu o Parlamento e o deputado pelo círculo de Beja proferiu um discurso de exaltação do Bispo “Soldado da Pátria, Soldado da Igreja e homem da caridade”. Conhecendo profundamente o valor da imprensa, cooperou activamente no jornal “A Guarda”, fundou a “Voz da Fé”, órgão das Obras das Vocações, e foi um dos fundadores do jornal “Novidades”, como órgão Católico. Em Maio de 1964, faz a Sagração Solene da Catedral, sob a invocação do Sagrado Coração de Maria.

A 24 de Outubro de 1965 vem a falecer santamente em Fátima. A notícia espalhou-se rapidamente por todo o país, e ao Santuário começaram a chegar mensagens e telegramas de sentido pesar. Na manhã de 25, depois da celebração da Missa de corpo presente, segue em cortejo fúnebre para Beja, em que se incorporaram, além de outras entidades, o Governador Civil e presidente da Câmara, elementos do Cabido, e muitos sacerdotes. Acompanharam o cortejo o Ministro das Obras Públicas, Administrador Apostólico de Beja, Governador Civil de Santarém. Da Covilhã deslocaram-se a Beja os Párocos da cidade, presidente da Câmara Eng.º Vicente Borges Terenas e inúmeros covilhanenses. O Cabido da Sé da Guarda foi representado por Mons. Cónego Mendes Matos, Dr. Santos Abranches, Dr. Oliveira Leitão e Mons. Alfeu Santos Pires. O Governo fez-se representar pelo Ministro do Exército. O Centro Cultural e Social da Covilhã foi representado pelo Arcipreste Pe. José de Andrade. Os Ministros da Justiça e do Interior concederam autorização para que fosse sepultado em túmulo privativo da Sé Catedral de Beja. Na 2ª feira, a Câmara da Covilhã reuniu extraordinariamente exarando um voto de pesar.

Foi Bispo de Beja quarenta e três anos. Realizou uma obra gigantesca. Serviu com zelo a causa de Deus e serviu e honrou Portugal. A sua vida, que pode ser apontada a todos como alto exemplo, ilumina os anais da cidade da Covilhã, que se orgulha de o ter como Filho dos mais ilustres.

Na Rua Condestável Nun´Alvares Pereira, no prédio nº 45 foi colocada a seguinte placa: Nesta Casa nasceu, a 23 de Julho de 1884, D. JOSÉ DO PATROCÍNIO DIAS – Chefe dos Capelães Militares na Grande Guerra de (1914-1918) Bispo de Beja (1921-1965).

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